Meu Primeiro Arco Primitivo

Achei interessante iniciar as postagens mais técnicas com uma homenagem ao meu primeiro arco primitivo, que confeccionei utilizando as técnicas primitivas.

Em 2001, pouco depois de encontrar o artigo mencionado no post anterior, iniciei minha busca por um pedaço de madeira apropriado para fazer meu primeiro arco. As madeiras recomendadas eram respectivamente o Pau-brasil, o Ipê roxo e a Aroeira. Como eu não tinha acesso a nenhuma destas madeiras, pesquisando na internet, e trocando e-mails com o amigo que escreveu o artigo, percebi que boa parte das árvores frutíferas fornecem bom material à confecção de arcos. Isto para mim foi uma excelente notícia, pois meu quintal era bem arborizado e eu tinha algumas fruteiras disponíveis.

Escolhendo a madeira para o meu primeiro arco primitivo

Por suas características estruturais escolhi como “vítima” um pé de ameixa. Sua madeira é muito clara e bonita e poderia cortar um galho grande e relativamente reto sem matar a árvore, ,

Madeira para meu primeiro arco primitivo
Madeira para meu primeiro arco primitivo

Derrubei o galho referido, que tinha em torno de 2 metros com 10 cm de diâmetro aproximadamente. Lasquei-o ao meio com o auxílio de um machado e de cunhas de madeira. com o tronco devidamente dividido em 2 no sentido longitudinal. Aguardei pacientemente alguns meses para a secagem da madeira, cuidado este essencial para o sucesso do arco. Madeiras “verdes” tem muita memória cedendo á curvatura do arco, mantendo a forma curva mesmo sem estar encordoado, fazendo com que se perca muita força e velocidade.

O básico sobre construção de arcos

Arcos nada mais são que molas, fixadas a uma corda, que converte a força acumulada pelas lâminas em movimento com alta velocidade transferido à flecha. Mas se o fizermos com medidas uniformes em relação à largura e espessura de suas laminas, iremos concentrar o esforço no ponto central do arco, no punho. Ao puxar a corda, ela divide de maneira progressiva a força de flexão sobre o arco, tanto pelo ângulo formado entre a corda e a lâmina, quanto pela distância entre a corda e o punho, que é o ponto de apoio da alavanca. Portanto, para dividir o esforço de maneira uniforme por toda a extensão do arco, devemos ir afinando as lâminas. Quanto mais se aproxima das pontas do arco. não causando pontos fracos e aproveitando o máximo possível da deformação elástica da madeira,

A escolha do modelo

Optei pelo modelo longbow inglês, pelo romantismo dos filmes com histórias medievais e lendárias como Robim Hood. Mas este, de longe, não é o mais eficaz dos modelos de arcos. Arrisco dizer, inclusive, que é um dos piores. Precisa ser longo (normalmente do tamanho do arqueiro ou maior) justamente porque o formato de sua lâmina em “D” sobrecarrega muito a estrutura. Quanto mais distante se encontram as faces das costas (back – parte que fica de frente para o alvo) e ventre (belly – parte que fica virada para o arqueiro), mais pressão de tração sofre o back e compressão sofre o belly, causando muitas vezes a ruptura do arco.

Concluindo o meu primeiro arco primitivo

Depois de muitos dias de trabalho, as laminas foram lentamente raspadas com facas e até mesmo com cacos de vidro. A curvatura foi sendo analisada cuidadosamente a cada sequencia de desbastes até atingir a forma desejada.

Não vou exaurir todas as técnicas e etapas deste tipo de construção, pois isto tornaria o texto muito longo e cansativo de ler. Vamos nos aprofundando lentamente conforme o blog for sendo atualizado.

Esta é uma das poucas fotos que tenho dele.

Meu primeiro arco primitivo

O arco ficou com aproximadamente 60 libras, e nem preciso dizer que eu não conseguia com esse chassi de grilo puxa-lo completamente. Mesmo assim me trouxe muitas alegrias, e ainda está guardado comigo sem quebrar, aposentado por tempo de serviço.

Um abraço a todos e bons tiros!

Willian Maia

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